sexta-feira, 9 de novembro de 2012

Omnifertilização

ATENÇÃO: O texto abaixo contém descrições sexuais explícitas




Ela me esperava no enorme salão. Nele não havia nenhum móvel e adereço, somente ela em seu corpete vermelho, calcinha de mesma cor e meias calças semi-transparentes. Tinha cabelos fartos, ondulados, castanhos. O corpo era voluptuoso, com a carne perfeitamente distribuída. O sexo perfeitamente tampado  pelo pequeno triângulo de tecido. Ela me convidou para caminhar até ela, estendendo a mão. Eu aceitei.

- Tire suas roupas! - ela mandou. E eu o fiz sem hesitar.

Ajoelhei-me ao lado dela, sentando-me sobre meus pés. Ela começou a tirar o corpete, exibindo seios perfeitos. Depois a calcinha e por fim as meias calças.

Sem dizer nada abaixou-se até meu pênis, que já estava duro, e começou a lambê-lo de cima a baixo. Sentia a glande deslizando no céu de sua boca, a língua descendo por ele todo até o escroto, até o meio dos testículos. Ela fez isto até sentir que eu já estava suficientemente excitado. Depois levantou-se sem demora, deixando sua vulva na altura de minha boca.

Ela não precisou dizer nada. Segurei-a pela cintura e comecei lamber seus grandes e pequenos lábios, apenas o bastante para minha língua sentir seu gosto, e penetrar mais fundo, até o clítoris com o qual dançou sensualmente, até seu suco correr mais fartamente. Ela empurrou minha cabeça depois de começar a sentir-se excitada. Apoiei meus braços no chão atrás. Ela agachou-se, bem devagar, encaixando meu pênis ereto em sua vagina, e desceu por ele.

Ali começou outra dança sensual. Um rebolar lento que intensificou-se, depois um movimento serpenteante. Senti o gozo chegando, e disse pra ela. Ela disse pra eu segurá-lo um pouco mais, eu disse que tentaria, mas não demorou muito pra eu sentir que não conseguiria por muito tempo, e ela parou.

Levantou-se rapidamente. Deu as costas para mim, e curvou-se para frente.

- Lamba! - ela mandou.

Ajoelhei-me, até ficar na altura de seu ânus, e comecei a lambê-lo, e a penetrar-lhe com a língua. Fiz isto por tempo suficiente para o gozo que se acumulara na uretra recuar, e ela sentir que era a hora de eu penetrá-la ali. Mandou que eu fizesse, e eu obedeci.

A glande deslizou lenta pra dentro de seu ânus, auxiliada pela minha saliva e pela seiva que sua vagina que havia deixado nela. E a nova dança durou até o ponto em que ela achou que eu daria conta de conter meu gozo. Interrompi quando ela mandou.

Ela voltou a me encarar de frente. Seu corpo imponente parecia ainda mais delicioso aos meus olhos naquela hora. Ela notou isto.

- Vamos até o fim agora! - ela ordenou.

Em seguida agachou-se novamente, levando meu pênis, ainda ereto, para dentro de sua vagina. Senti com mais intensidade a onda de prazer conforme ele deslizava pelas paredes do canal vaginal. Ela disse:

- Quero que você lamba e chupe meus seios com vontade dessa vez, enquanto cavalgamos!

E ela começou seu serpentear e rebolar, agora mais frenéticos, enquanto minhas mãos e boca apalpavam, lambiam e chupavam seus seios. Fazia isto como se quisesse engoli-los inteiros numa só chupada, enquanto ela arfava nos meus ouvidos, e soltava gemidos, e me excitava ainda mais estimulando meu gozo com contrações vaginais. Eu o sentia vindo, e entre uma chupada e mordiscada em seus seios a informei que agora não conseguiria me conter, e ela disse:

- Não quero que se contenha! Deixe sair!

E com meu corpo inteiro em convulsões de prazer, senti o gozo jorrar de meu pênis para dentro dela, e a continuar jorrando.

- Eu nunca senti isto antes!  - disse eu - Nunca ejaculei tanto como agora!
- É porque você nunca esteve neste lugar! Nunca esteve comigo!

E ainda sentindo o sêmen sair:

- Que lugar é este? E quem é você?
- Este é o Salão da Omnifertilidade! Aqui sou capaz de multiplicar seu gozo mil vezes mais! Com ele mil outras Marias de outros universos serão fertilizadas e delas nascerão mil versões de você! - e dito isto a última gota de meu sêmen jorrou para dentro dela.

Eu estava exausto. Ela apenas satisfeita. Deitou-se ao meu lado, repousando uma das mãos sobre o meu peito, e continuou a falar, agora suavemente:

- Elas pensarão que foram engravidadas pelo divino Espírito Santo, quando na verdade seus óvulos foram fertilizados pelo seu sêmen.
- Como isto é possível? - murmurei, usando o pouco de força e fôlego que me restavam.
- Aqui nos tornamos deuses. Nossos corpos têm suas propriedades expandidas. Meu útero torna-se um canal diretamente ligado a outros mil úteros ligados a ele.
- Você está falando de buracos de minhoca... Redes sub-espaciais espalhadas pelo universo...
- Universos! Estamos falando do Multiverso aqui.
- É claro... - e depois disto não consegui falar mais nada, só ouvi-la.
- Meu nome é Madalena. Alguns me chamam de a Meretriz Suprema, a Prostituta Universal. Mas aqui eu sou mais do que isto. Sou uma deusa a distribuir fertilidade para jovens destinadas a dar à luz homens que se tornarão especiais em seus mundos, importantes para eles.

"Através de mim estes homens podem penetrar no universo físico. Este lugar é a porta de entrada para eles. Ou melhor, minha vagina é a porta de entrada para o Paraíso Terrestre. Por isto você teve que provar do seu suco antes de penetrar-me pela primeira vez. A seiva secretada pelos portais de carne do Paraíso é um estimulante para a produção de sêmen e espermatozoides necessários para a omnifertilização.

"Por esta razão também já me chamaram de Lilith, aquela que pariu a humanidade na Terra, e alguns de seu mundo acreditam que eu seja a mãe da materialidade, aquela que ofereceu o corpo para fecundar o óvulo cósmico primordial que deu origem ao universo material.

"Sei que isto é demais pra você ouvir agora, no estado em que se encontra. Mas é preciso que você escute atentamente. Apesar do cansaço de agora, você vai se lembrar, pois outra das propriedades da seiva de meus lábios vaginais é tornar vívida cada memória destes instantes aqui. É necessário que você leve-as consigo para, quando despertar no mundo físico, você as transcreva, e passe adiante esta informação.

"Estamos em um dos pontos mais altos fora do tempo e do espaço, e muito próximos do viveiro de universos bebês. Aqui corpos múltiplos são criados para espíritos elevados. Aqui tudo se expande em padrões fractais até o ponto em que é necessário. Se subíssemos um pouco mais, com nosso sexo, seríamos capazes de fertilizar planetas inteiros. Um pouco mais acima galáxias.

"De várias formas o sexo é uma constante universal. E é pra isto que você veio aqui. Para saber disto, participar, levar consigo a experiência e passá-la adiante.

"Que agora você volte em paz, meu amante. Obrigado por dar sentido à minha existência mais uma vez. Suas futuras mães serão eternamente gratas a você."

E hoje eu despertei, sentindo que entrei em contato íntimo com mais uma daquelas grandes verdades a respeito das fundações de toda a Criação, e um desejo irreprimível de escrever sobre ela...

sábado, 3 de novembro de 2012

Lyssa

Shrapnel (por Marek)


Tudo aconteceu muito rápido. Primeiro o alerta de que o vírus havia se espalhado por toda a nave. Depois a correria, e as tentativas de escapar de um destino que já estava selado. E por fim a conversão.

Lyssa pensava nisto tudo enquanto, ofegante, mas procurando controlar a respiração para que não fosse ouvida, esperava que uma janela de oportunidade se abrisse para sair de seu esconderijo nas sombras. Haviam cinco no corredor que a separava do escritório do almirante. Enquanto observava atentamente a movimentação de seus ex-companheiros e amigos, procurava se lembrar das explicações da equipe científica.

- O mais importante é que vocês saibam que o vírus só é ativado por uma frequência sonora específica, que o sistema de segurança da nave está programado para bloquear caso detecte qualquer tentativa de emiti-la.

"Sim, Dr. Schwartz, mas você não contou com a hipótese do inimigo invadir nosso sistema e fazer com que ele se voltasse contra nós, emitindo a tal frequência...", pensou Lyssa enquanto via que algo chamou a atenção dos cinco homens de armaduras que ainda andavam maquinalmente pelo corredor que precisava percorrer. Segurou com mais firmeza sua arma, e seus músculos ficaram mais tensos dentro de seu traje de combate. Tinha que posicionar-se para correr a qualquer momento.

- Mas, doutor, eu não entendo porque o vírus tem que ser estudado aqui dentro! Qualquer problema que tiverem com os equipamentos de quarentena e a tripulação inteira pode ser infectada em questão de horas!

- Confiamos no sistema de segurança, Coronel Richards. É um firewall de dez níveis, e a melhor e mais complexa encriptação já desenvolvida na galáxia. Impossível de ser decifrada.

"Não para os nossos inimigos, Dr. Schwartz..." Os homens já estavam quase no final do corredor. A janela estava se abrindo. Lyssa ergueu-se, arma junto ao peito, corpo incrivelmente tenso. Assim que passaram da porta do escritório do almirante ela começou a correr.

Calculou uns quinze metros enquanto corria. Contava com a possibilidade de que a infecção afetava de alguma forma o aparelho auditivo daqueles que já estavam sob o controle telepático da criatura. Mas pouco antes de chegar ao escritório, Lyssa descobriu que ainda continuavam ouvindo muito bem. Os dois últimos do grupo viraram em sua direção, e começaram a apontar suas armas pra ela. Lyssa foi mais rápida e acertou-os bem no peito. Sabia que isto serviria apenas para retardá-los, pois suas armaduras de combate eram à prova de rajadas de plasma. Mas ganhou tempo o suficiente para entrar no aposento. Assim que o fez trancou a porta inserindo a senha de travamento no teclado. Não resistiria muito tempo, pois, infelizmente, ao contrário das armaduras de seus inimigos, a porta não resistiria aos tiros de suas armas.

Olhou freneticamente ao redor do escritório em busca do que precisava para seguir em frente. Era um escritório à moda antiga, com móveis de madeira, e livros de papel, impressos na gráfica particular do almirante. "Tão antiquado," se permitiu pensar enquanto continuava procurando. Na parede oposta à escrivaninha encontrou. Estava sobre aquecedor disfarçado de lareira, um truque simples feito com projeções holográficas que saudosistas usavam para se sentirem mais próximos de seus lares planetários.

- É uma das reproduções mais fiéis de uma katana do período Tokugawa. - dizia o Almirante Dämmer a Lyssa - A única diferença é que a lâmina foi afiada por um amolador quântico. Corta qualquer material feito manteiga, pois seu fio desfaz as ligações subatômicas.
- Mas por que você pediu pra afiá-la assim, papai, se ela fica o tempo todo dentre deste campo de êxtase?
- Porque nunca se sabe quando precisaremos das armas do passado, minha filha. Pode ser que um dia toda a nossa tecnologia nos deixe na mão.

"Sim, papai, você estava certo..." Lyssa pegou com reverência e com muito cuidado a espada. "Qualquer descuido e eu posso me dar mal também..."

Em seguida vieram os tiros. A porta já estava cedendo. Encaixou sua arma no coldre da armadura, empunhou a espada com as duas mãos, em posição de batalha. "Vamos se eu ainda me lembro das suas aulas de kendo, papai." A porta de metal desabou no chão do escritório. Sentiu o tremor do baque percorrer todo o seu corpo. Dois homens entraram.

Lyssa correu na direção deles. Desviou os disparados com o escudo do antebraço esquerdo. Não foi o suficiente pra impedir que a viseira de seu capacete fosse destruída quando a rajada passou de raspão por ele. Mas isto não a impediu de decapitar o primeiro deles. "Como manteiga..." Sem hesitar fluiu a lâmina até o peito do segundo.

- Descansem em paz, meus amigos.

Quando botou a ponta do pé pra fora da soleira da porta, sentiu uma rajada passar de raspão por sua testa. Voltou logo para dentro. "Os outros três já estão posicionados..." Trocou a espada para a mão esquerda, e agarrou sua arma com a direita. Esticou-a pra fora do escritório, e disparou na direção de onde veio o tiro. Contou dez rajadas a esmo, o suficiente para atordoá-los, e saiu com tudo na direção deles.

Desarmou o primeiro com um tiro certeiro na mão, e rasgou-o de cima a baixo com a katana. O segundo acertou Lyssa no ombro esquerdo. A armadura deu conta do tranco, mas a espada voou de sua mão. Saiu rodopiando. Lyssa se jogou pra trás, caindo de costas, e disparando contra o capacete de Ryan. Havia jogado poker com ele na noite anterior. Se divertiram muito. Ela quase o levou pra cama depois de algumas bebidas, mas já estava cansada demais pra fazer mais do que dar-lhe um beijo de boa noite. O capacete dele era feito de fibra reforçada, ao contrário do que ela usava. "Malditos soldados de elite e suas armaduras ultra-resistentes!" Chovia disparos em sua direção, mas a maioria acertou o chão. Pelo menos ainda estava atordoado depois dos tiros que recebeu dela. Foi o bastante para ela pegar a espada, correr a lâmina até a virilha de seu atacante, e dividi-lo em dois de baixo pra cima. Restava um.

Um dos disparos chamuscou a ponta de seu cabelo. O cheiro de queimado a irritou. Disparou contra os joelhos dele. Dez rajadas alternadas em ambos. Suas pernas cederam. Caiu de quatro no chão. Mas a arma continuava ao alcance de suas mãos.

- Chega de brincar, Scott!

Girou o cabo da katana no punho direito, segurou-a feito uma lança, e a arremessou. Atingiu a testa de Scott, que caiu morto para frente.

- Na eventualidade de toda a tripulação ser infectada, Lyssa, você é a única que tem chances de sobreviver. Você sabe por quê.
- Sim, papai. De repente meu problema de nascença virou minha maior vantagem.
- Sempre tive muito orgulho de você, filha. Durante todos estes meses ninguém desconfiou dele. Sua leitura labial é algo que não cansa de me impressionar.
- Também ajudou muito o traje amplificador de vibrações ambientes que seus cientistas criaram pra mim, papai. Caso contrário, logo nosso segredinho seria descoberto.
- Eles estão muito próximos de nos derrotar, Lyssa. Várias de nossas naves foram infectadas pelo vírus disseminado por aquela coisa. Todos se tornaram...
- Eu sei, pai. Todos agora fazem parte daquela criatura horrível.
- Uma entidade coletiva. É o que nossos cientistas dizem... Quem imaginaria que uma forma de vida como aquela existia no universo... Algo capaz de controle mental remoto, mesmo a anos-luz de distância.
- Não adianta ficar pensando nisto agora, pai. Nossa equipe científica já conseguiu isolar o vírus. É só uma questão de tempo até desenvolverem uma vacina.
- Não é tão simples assim, Lyssa. É um microorganismo muito ardiloso aquele, segundo me disseram. Qualquer descuido e ele pode infectar um deles, e isto será o suficiente para que ele se espalhe caso não consigam isolar o hospedeiro a tempo.
- O Dr. Schwartz me pareceu um homem muito cuidadoso e confiante na palestra que nos deu.
- Ninguém é perfeito, minha filha. Ele confia demais em sua tecnologia, mas são as falhas humanas o que mais me preocupa. Um descuido, e seremos todos condenados.

- Eu vou conseguir, papai! - dizia Lyssa em voz alta para si mesma, enquanto corria pelos corredores da nave, evitando cruzar com mais de seus ex-companheiros. Todos infectados por não terem a mesma deficiência que ela. Todos enganados por ela, sem jamais suspeitarem de que era surda, e que havia aperfeiçoado sua dicção a tal ponto que não deixava o menor indício de que não era capaz de ouvir sua própria voz. E agora todos eram apenas mais algumas centenas de dedos de uma nova mão do invasor a surgir em meio à frota de duzentas naves enviadas para combatê-lo direto na fonte.

- Exibir localização atual. - falou para a armadura, que em seguida projetou no espaço uma miniatura tridimensional do mapa da nave. - Quase lá!

O abafamento e as dores musculares que já sentia não a incomodavam tanto quanto o sangue coagulado tingindo parte de seu rosto e da armadura. Sabia que não havia mais esperanças para aquelas pessoas, mas não é todo dia que você tem que matar dezenas de homens e mulheres que no dia anterior lhe davam "bom dia" e a tratavam não apenas como a filha do almirante, mas como uma amiga, como alguém com quem podiam contar nas horas de diversão e durante os combates. Não é todo dia que você é forçada a explodir a cabeça de seu pai depois de descobrir que ele se tornou parte do maior inimigo de sua espécie... Tudo isto por uma chance de fugir do próprio inferno.

- Se as coisas se descontrolarem, filha... Se nós também nos "convertermos," eu quero que deixe tudo isto pra trás, a qualquer custo. Não tente ir pra outra nave. Não tente ir para o espaço porto, nem para a Terra. Vá para Hytte. Quero que fique por lá.
- Mas, pai, eu não vou poder fazer nada por lá! Está fora da União!
- É justamente por isto! Você não pode sair de lá até que... Até que algo pare aquela coisa.
- Não há garantias, pai! E mesmo que Hytte esteja fora da União, algum dia ela pode se espalhar até lá.
- Se isto acontecer, filha... Você vai saber quando chegar lá.

Finalmente o hangar! Os módulos de fuga! E, claro, mais soldados do inimigo usando o corpo de seus companheiros... Contou quinze deles entre ela e o módulo de fuga 26. Aquele que estava programado para levá-la a Hytte. O único capaz de abrir um buraco de minhoca até ele. O único programado para ser acessível apenas ao DNA do General e de Lyssa.

- Fique com isto, Lyssa.
- O que é isto, pai?
- O controle direto do programa de autodestruição da nave.
- Por que está me dando ele? Isto tem que ficar apenas com o almirante.
- É uma cópia perfeita do que eu tenho. Quero que você esteja preparada pra destruir isto tudo aqui caso o pior aconteça. Será uma mão a menos que o inimigo terá pra continuar crescendo a nosso custo.
- Pai, você tem que ter fé de que as coisas vão melhorar.
- Lyssa, eu... Já aconteceu, minha filha.
- O quê?!
- O Dr. Schwartz... - seus olhos eram puro desespero - É como eu disse, filha. Ele confiou demais na tecnologia... Ele...
- ELE O QUÊ, PAI?!!
- Foi infectado. Matou a maior parte de sua equipe e conseguiu fugir. Estamos mantendo sigilo para que não gere pânico entre a maior parte da tripulação.
- Mas vocês estão tentando capturar o doutor, certo? Ainda dá tempo de impedir que ela se espalhe!
- Já se espalhou, Lyssa! Schwartz já foi morto. Mas o vírus já se espalhou pelo ar. Não tivemos tempo de vedar todas as seções da nave. É uma questão de tempo até que chegue aqui.
- Mas você ainda tem homens que não foram infectados! Eles podem defender as partes que ainda estão limpas.
- A maior parte de nossos soldados já está sob controle da criatura, Lyssa. Eles possuem armas capazes de destruir os obstáculos que nos separam deles. E quando a última porta ceder, filha... Quero que me mate antes de fazer qualquer mal a você, e fuja daqui.

- Tudo bem, sua coisa desgraçada! - gritou Lyssa para seus quinze adversários - Vamos ver se você consegue me segurar aqui!

Tiros certeiros em leque arremessaram os cinco primeiros para trás. As rajadas inimigas começaram logo depois. Lyssa desviou parte deles com o escudo. Um deles atingiu sua perna esquerda de raspão, mas não a impediu de seguir em frente. "É como usar um pincel, filha." E Lyssa pincelou metal e carne com sua katana, fatiando os adversários mais próximos sem esforço, e mantendo os outros à distância com rajadas de plasma até que estivesse pronta para atacá-los diretamente. Era uma deusa de mil olhos num avatar humano, enxergando tudo com seu corpo inteiro. Cada vibração e cada vislumbre era um ponto a ser analisado, evitado por um instante, e atacado mortalmente em outro. E num balé de sangue, desmembramentos e decapitações, Lyssa dançou com a morte uma vez mais, e livrou-se com muita destreza de cada um dos dedos que tentaram puxá-la na direção da submissão.

Quando terminou, estava encharcada de sangue. Ele não a incomodava mais. Era agora o combustível que alimentava sua determinação. Chegou até o módulo de fuga, cuspiu no sensor de leitura de DNA. "Sem tempo para tirar a luva, meu caro." A porta se abriu.

- Este módulo de fuga está programado para levá-la a Hytte. Deseja alterar seu destino? - perguntou prestativo o sistema de bordo.
- Sim. Leve-me direto para o centro de Dommedag 5-K.
- Devo adverti-la de que este é o planeta central de...
- EU SEI QUE É O MUNDO DAQUELA COISA MALDITA! É por isto mesmo que eu quero ir pra lá! Vou matar aquela vadia com minhas próprias mãos.
- Como desejar, Srta. Lyssa. Por favor, insira a senha de ativação da perfuratriz espacial.

Antes disto pegou o controle que seu pai lhe deu. "Descansem em paz." E apertou o botão. Em um minuto a nave se autodestruiria.

Em seguida inseriu a senha da perfuratriz, um buraco de minhoca se abriu no tecido do espaço, e o módulo de fuga se arremessou para dentro dele.

- Esta viagem tem duração prevista para cinco dias, treze horas, quatro minutos e vinte e sete segundos em tempo relativo.
- Que seja. É o suficiente para eu tirar um cochilo.
- Deseja que eu acione o campo de êxtase para que fique mais confortável?
- Não, obrigada. Vou dormir do jeito antigo mesmo (como o papai gostava...).
- Como preferir, Srta. Lyssa.
- Cinco dias, papai... Em cinco dias eu vou te deixar mais orgulhoso ainda. Sua princesinha vai matar o dragão.

...

terça-feira, 23 de outubro de 2012

O Éden Não é o Bastante

Eden is Not Enough: Fin (por Naomi Chen)



Ele era um homem determinado, apesar de quase todos o considerarem um louco pela decisão que tomara. Havia aqueles, poucos, que concordavam com ele, mas não tinham sua coragem para chegar às vidas de fato.

Empunhando apenas sua espada, a única existente naquele mundo de eterna paz e satisfação, forjada nas cavernas do único vulcão que lá existia, ele partiu, rumo às fronteiras de seu mundo.

Lá encontrou exatamente aqueles que esperava: os anjos guerreiros, guardiões da entrada da temível Floresta Devoradora de Almas. Com esforço derrotou-os. Perdeu um braço durante a luta, mas pegou para si, como troféus, os braços direitos dos cinco anjos. Não apenas troféus, mas chaves, que davam acesso aos caminhos secretos para saída.

Porém, o pior estava por vir quando adentrou a floresta. Havia muitos rumores a respeito da criatura que protegia a última barreira entre o seu mundo e o universo lá fora.

As árvores murmuravam mil advertências entre si, todas indiretamente dirigidas ao intrépido desconhecido. Ele ignorou todas e prosseguiu.

Encontrou uma clareira, e em seguida uma cachoeira, onde resolveu lavar suas feridas e matar sua sede. Não deu tempo. Uma explosão de espuma d'água e galopes que soavam como vindos diretamente do inferno interrompeu seu momento de respiro. Ele perdeu o fôlego diante da visão.

Era ela, a criatura, o cavalo demônio de oito patas, o equino anfíbio, com o corpo tatuado com os encantamentos de uma língua mais antiga que o próprio tempo, aqueles que lhe conferiam todo o seu poder. Chifres que eram extensões da árvore da morte. E, é claro, o crânio que tantos diziam ser capaz de romper carne, ossos, tempo e espaço, e sempre atingir fatalmente sua presa, não importava o que ela fizesse.

Ele investiu contra o demônio, que esquivou-se como uma serpente. Foi empurrado em direção a cachoeira, seguido da fera, que mergulhou em seguida.

Foi a vez da fera investir contra ele, que por pouco não teve a barriga rasgada, e os intestinos libertos de seu ventre. Levou a espada para trás, rezou para o seu deus, ele próprio, o único em quem acreditava. A criatura serpenteou, deixando um rastro fervilhante de bolhas. O guerreiro usou seu último fôlego e transferiu toda a sua energia para o único braço que lhe restara. Fechou os olhos, deixando que a espada guiasse suas mãos.

Uma eternidade se passou até que abrisse novamente as janelas de sua alma, e encontrou o que, até momentos atrás, temia ser impossível. O crânio inerte da criatura pendia no alto de seu punho, trespassado pela lâmina da espada. Era surpreendente que ele a derrotara tão facilmente. Pensou consigo se tudo que era preciso para sair daquele mundo era só um bocado de vontade acima do normal. E ali estava a resposta, atravessada por sua espada.

De alma e corpo lavados, e o crânio da besta jogado nas costas, ele prosseguiu. Caminhou o que lhe pareceu mil dias por uma floresta cada vez mais silenciosa e desprovida de vida. À frente a escuridão aumentava.

Chegou num amontoado de arbustos, onde julgou ser o fim da floresta. Seu sorriso de satisfação brilhava como o big bang. Largou espada, braços angelicais e a cabeça da criatura ao chão, e correu até eles. Abriu caminho entre as folhas, e estancou. Ali, diante dele, estava o que procurava. Mas era inquietante demais. Não era o que ele esperava.

Havia, sim, um universo inteiro lá fora, esperando para ser explorado por aquele a quem o Éden não era o bastante. Mas havia, entre o guerreiro e o universo, um abismo de nada. Um salto que ele ainda não era capaz de dar, até o próximo mundo. E então ele entendeu as advertências, as acusações de loucura. Não podia voltar para trás, pois o que deixara quando partiu era pouco para ele, diante da visão à frente. Entre o Éden e o abismo, ele preferia o que estava a um passo de avanço. E o passo ele deu...